No Linkedin, antropólogo desmistifica ideias de que o termo tem conotação negativa e pede para as pessoas se atentarem às fraudes nos descontos
Texto: Victor Lacerda | Edição: Nataly Simões | Imagem: Artem Beliaikin/Unsplash
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Novembro, para o comércio, é o mês de queimar estoque de mercadorias que perderam o título de lançamento há algum tempo. O termo em inglês “black friday” é usado para definir este período, considerando a última sexta-feira do mês como um dia dedicado a descontos.
Revisando o vocábulo que utilizamos cotidianamente, em busca de uma melhora nas práticas preconceituosas veladas, a “sexta preta” pode ser considerada um termo racista ou não? O antropólogo e sociólogo Fábio Mariano Borges entrou para a discussão e ajuda a explicar fatos que atendem ao questionamento sempre levantado nesta época do ano.
Em uma publicação no Linkedin, o estudioso cita que, historicamente, não há registro documentado de que o termo teve origem na venda de pessoas pretas escravizadas no século 16, nos Estados Unidos, país onde começou a ser usado.
Segundo Borges, a expressão tem origem no linguajar dos varejistas da região da Filadélfia, que tinham como objetivo promover preços de custo e, por consequência, esvaziar estoques e gôndolas.
O antropólogo ressalta que o termo, para o dia a dia da população americana, é usado com conotação positiva. “Black em inglês também significa estar com o saldo ok. Por lá, os contadores e demais, para expressar que estão com o ‘saldo no azul’, dizem ‘I’m on black’. Daí a razão do uso da expressão para uma grande promoção numa 6a feira após o feriado de Ação de Graças: deixar as contas do varejo com saldo equilibrado”, pontua.
Ao contrário do que é visto nas discussões sobre expressões racistas, o sociólogo relata o fato de que os afro-americanos, mesmo aqueles que integram ativamente grupos de militância, não questionam o termo e não pedem a troca do nome.
Borges pede ainda um olhar mais apurado sobre o que vai além das problemáticas de termos possivelmente racistas. Segundo ele, o dia de descontos, para os consumidores brasileiros, não é tão ético quanto parece, sendo sinônimo de fraudes ou de falsas promoções que tentam empurrar mercadorias pela metade do dobro do preço original de mercado.
“Infelizmente, a nossa Black Friday é, comprovadamente, a mais fraudulenta do mundo. Há muito mais do que o nome para mudar: os varejistas e gestores precisam ser éticos e deixar de fraudar uma ação que é boa para o comércio e para os consumidores”, conclui.