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Bonecas antirracistas em escolas municipais de São Paulo são alvo de críticas e investigação

Prefeitura assinou contrato de R$ 17 milhões sem licitação; Tribunal de Contas do Município questiona
A imagem mostra as bonecas compradas pela Prefeitura de São Paulo para compor o currículo antirracista em escolas municipais.

Foto: Reprodução

1 de março de 2024

Entidades do movimento negro e professores da rede municipal de ensino de São Paulo expressaram críticas em relação às bonecas artesanais e antirracistas fornecidas pela prefeitura para cerca de 3 mil unidades de educação infantil na cidade. Segundo eles, as bonecas não representam adequadamente o fenótipo das crianças negras e andinas, dificultando a eficácia da política educacional antirracista.

Uma professora da rede municipal, que optou por não se identificar, afirmou ao veículo g1 que as bonecas não representam de forma alguma crianças negras e nem andinas. “Um desrespeito ao fenótipo com uma forma de caricatura: olhos cinzas, sem pescoço, cabeças desproporcionais ao corpo, sem calçados remetendo ao tempo de escravizados”. Ela ainda ressaltou que muitas crianças não se identificaram com as bonecas e algumas até demonstraram medo.

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A compra e distribuição de 128 mil bonecas e bonecos negros e migrantes como parte do currículo antirracista das escolas municipais ocorreu em março de 2023. Na época, o secretário de Educação, Fernando Padula, enfatizou a importância de abordar o tema do racismo desde a infância para criar um ambiente escolar inclusivo e diverso.

Entretanto, a advogada Shirley Candido Claudino, do coletivo ‘Black Sisters in Law’, questionou a falta de representatividade das bonecas. “Eu não me vejo representado naqueles bonecos. Eu diria até que são bonecos que podem, porventura, até causar situações de racismo, dentro das atividades que se foram propostas utilizando esse material”, declarou ao g1.

A compra dos brinquedos, classificados como “bonecos assustadores” por integrantes do movimento negro, está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas do Município (TCM), segundo informações divulgadas pela Folha de São Paulo. O contrato, no valor de R$ 17,2 milhões, foi assinado sem licitação em dezembro de 2022, e a justificativa da prefeitura foi a exclusividade dos produtos oferecidos pela empresa contratada, a Ateliê Quero Quero.

Em resposta à Folha, a gestão municipal defendeu a contratação da empresa, destacando sua experiência em projetos antirracismo. Segundo o veículo, os itens buscam, em tese, enaltecer a população negra e latina ao inseri-los no cotidiano das crianças. Para ativistas, porém, eles prejudicam a autoestima das crianças que buscam caracterizar, além de remeterem ao período da escravidão.

A Ateliê Quero Quero afirmou que atua na área desde 2021 e que o custo das bonecas está dentro do esperado para esse tipo de produto.

  • Giovanne Ramos

    Jornalista multimídia formado pela UNESP. Atua com gestão e produção de conteúdos para redes sociais. Enxerga na comunicação um papel emancipatório quando exercida com responsabilidade, criticidade, paixão e representatividade.

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