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Bonecas negras ainda são menos vendidas e correspondem a 6% dos modelos disponíveis online

14 de outubro de 2020

Levantamento mostra que apesar dos debates sobre a representatividade negra, o comércio digital de bonecas negras permanece inalterado

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Acervo Pessoal/ Lúcia Makena

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Apenas 6% das bonecas disponíveis para as vendas em sites de fabricantes brasileiras são negras, segundo o levantamento bianual realizado pela Avante – Educação e Mobilização Social no contexto da campanha “Cadê Nossa Boneca?”. Esta é a terceira edição do estudo, que analisa o universo de modelos contabilizados nos sites de fabricantes associados à Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).

O levantamento foi feito em agosto deste ano, por meio de pesquisas em sites de E-commerce, abrangendo 14 dos 22 fabricantes associados à Abrinq, contabilizando a quantidade de modelos de bonecas negras e de brancas disponibilizados em seus portfólios, repetindo a metodologia utilizada nos levantamentos realizados em 2016 e 2018. Alguns fabricantes ficaram de fora da pesquisa em função de problemas no site.

Foi constatado que os sites disponibilizavam 1.093 modelos de bonecas. Dessas, apenas 70 eram negras, ou seja, aproximadamente 6% do total da amostra. Este foi o menor percentual verificado desde que a pesquisa começou a ser feita. Em 2016, o índice foi de 6,3%, e em 2018, de 7%. Os dados ainda informam que apenas oito fabricantes tinham a opção de bonecas negras para venda.

O levantamento frisa que a baixa oferta de bonecas negras no mercado brasileiro deve ser encarada como uma questão importante e de amplo impacto no desenvolvimento das crianças brasileiras.

“É sabido que crianças aprendem sobre questões raciais desde muito cedo. Estudos mostram que as crianças conseguem distinguir características raciais e de gênero antes mesmo de aprender a andar. Entre 2 e 4 anos, internalizam vieses raciais. Isto posto, o hábito de brincar, contexto de estímulo de aprendizado e socialização amplamente preconizado, deve ser idealmente permeado por ambiente e estímulos que propiciem a diversidade. Parece óbvio, portanto, que num mercado composto de 56% de população negra, a oferta de bonecas pudesse minimamente representar suas características. Mas o cenário segue muito distante do ideal”, diz o estudo.

Representatividade

Para pedagoga Lúcia Makena, as bonecas negras podem ser um instrumento que auxilia a discussão da temática racial na educação. “É por isso que a Lei 10639/2003 é tão necessária, porque busca trabalhar desde a infância até a universidade, que é para ampliar mesmo. É importante trabalhar a história e cultura afro-brasileira na Medicina, na Engenharia, na Psicologia, em todas as áreas de conhecimento. É preciso que os professores tenham essa formação”, comenta a profissional, destacando que aprofundar esses debates nas escolas implica ter uma sociedade menos racista.

“Para o sistema se sustentar e manter os seus privilégios, ele enraizou o racismo na sociedade. Não é fácil lutar contra, mas a gente não desiste. É uma luta diária mesmo”, acrescenta.

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Lúcia Makena comercializa bonecas negras. (Foto: Acervo Pessoal)

Lúcia diz que as bonecas fortalecem a identidade racial de pessoas negras de todas as idades uma vez que eleva a autoestima de quem vê suas características nos brinquedos. Já para as pessoas não negras, as bonecas podem desencadear que aprendam a repensar e ver beleza em outras culturas.

“O racismo é estrutural, as crianças brancas já nascem com a auto estima que leva a pensar que tudo que é diferente delas é menor. Eu mostro que é preciso respeitar outras histórias”, explica a pedagoga, que também fabrica e vende bonecas.

“Elas abriram um horizonte grande, eu pude ensinar a fazer boneca, refletir sobre a questão racial, ministrar oficinas, levar um pouco da cultura negra para escola, ongs, ocupações. Aumentou o meu senso de responsabilidade com tudo o que eu faço, com o contexto. Culturalmente me sinto enriquecida. Sou uma Lúcia antes e uma depois. Elas ampliaram a aprofundaram essas questões na minha vida”, complementa.

A campanha “Cadê Nossa Boneca?” nasceu em 2016 como uma grande ação de conscientização via mídia social, que visava sensibilizar a sociedade sobre a importância da representatividade no mercado de bonecas.

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