Assumindo cargo de chefia na empresa, o coordenador do setor de Esportes da TV Bahia, afiliada da Rede Globo, Hildazio Santana, usou as redes sociais para denunciar um episódio racista dentro da emissora. Em desabafo publicado nesta quinta-feira (28), o jornalista conta que foi coagido e acusado pelo diretor de Jornalismo, Eurico Meira, de ter furtado uma cafeteira da empresa, o que determinou sua demissão por justa causa.
Com quase 20 anos de trabalho dentro da emissora, Hildazio relata que foi chamado à sala do diretor no último 20 de outubro e se surpreendeu com a atitude do gestor. “Ele [diretor de Jornalismo] me colocou dentro de uma sala, tentou me desligar por justa causa, me coagiu, me julgou e no final me puniu com um desligamento da empresa. Me acusou da “SUBTRAÇÃO” de um equipamento de café”, denunciou, em nota veiculada em sua página.
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O jornalista explica o ocorrido questionado, de quando retirou uma cafeteira pequena de uma sala e coloquei em outra, sem sair das dependências da emissora, na presença de cerca de dez câmeras de segurança. A ação teria gerado desconfiança no diretor, que durante a conversa com Hildazio, chegou a questionar o tamanho da sua mochila e o que o profissional levava.
Ele destaca também que não imaginava que passaria por um episódio como esse. Ele pontua que o outro profissional deveria ser exemplo na orientação e cuidado com os demais, e não de apontar, de forma arbitrária e racista, como com ele. Hildazio conta ainda que Eurico dizia o “considerar” como um filho dentro da emissora.
Em defesa da sua integridade e ética enquanto pessoa e profissional, o jornalista ressalta ter princípios e valores vindos de seus pais, relembrando das dificuldades que passou para ser um homem negro formado atualmente. “Lembro que quando eu completei 18 anos minha mãe pediu demissão do trabalho de cobradora, pegou a rescisão e pagou um curso pré-vestibular para mim. Foram anos difíceis para minha veinha. Ela mesmo com pouco estudo, sempre acreditou que a maior arma de um ser humano é o conhecimento”, contou, em publicação.
Em resposta ao desabafo, colegas de trabalho e demais seguidores deram apoio ao jornalista por ligação e em comentários deixados em sua página. “A forma como você trata os colegas dentro da emissora sempre foi diferenciada, baseada acima de tudo no respeito”, “Quem te conhece sabe de sua índole”, “Não se cale! Você não estará só! Todos nós, que vivemos situações similares no nosso cotidiano” foram alguns dos posicionamentos publicados a favor do profissional em sua rede.
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EMISSORA NEGA EPISÓDIO
No início da tarde desta quinta-feira, a TV Bahia emitiu um comunicado à imprensa negando a versão do ex-coordenador e afirmando se tratar de uma decisão gerencial, natural no dia a dia de qualquer empresa privada, decisão essa embasada em questões profissionais, sem qualquer viés persecutório e/ou discriminatório.
A emissora finalizou afirmando que sempre trata seus colaboradores “com respeito, igualdade e seriedade. Eventuais discussões e desdobramentos do assunto serão tratados com empenho, seriedade e clareza nas esferas e instâncias competentes”.
Versão do jornalista
Hildazio afirma que uma reunião com o setor de Esportes foi organizada para comunicar a sua saída, tratando da motivação como o furto da cafeteira, sem deixar o profissional responder e conversar sobre seu posicionamento com os colegas de setor.
À redação, o jornalista informou que entrou com um processo de calúnia e difamação, além de uma representação ao Ministério Público da Bahia sobre crime de racismo contra o diretor Eurico Meira. Por ter sido uma demissão por “justa causa”, Hildazio, até o momento, não terá direitos garantidos sobre seu desligamento, mas vai recorrer com a entrada de um processo trabalhista junto aos seus advogados.
“Eu tenho esposa, dois filhos, com carro e apartamento comprados recentemente. Isso não se faz. Não teve o mínimo de empatia quando pensou em me acusar. Imagine para a minha mãe me ver sair de um emprego, que eu já estava por anos, como ladrão? É decepcionante”, desabafa, em conversa com a Alma Preta Jornalismo.
O jornalista encerra retratando sobre como profissionais negros são tratados dentro de veículos de comunicação no país e como suas competências são negligenciadas diariamente. “Nós somos competentes, somos muitos e não precisamos nos humilhar para termos a promoção ou o salário que deveríamos ter. A gente só quer a oportunidade de mostrar nosso trabalho em espaços que seremos reconhecidos de forma coerente”, finaliza.