Após 30 anos maturando canções com “línguas de preto”, um dos principais expoentes do movimento negro lançou nas plataformas digitais durante a pandemia o trabalho inédito intitulado “Ifé Bogbo Aiye”
Texto: Redação | Edição: Nataly Simões | Imagem: Raul Zito
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Registros fonográficos de uma pesquisa cultural realizada pelo Mestre Malumba em mais de 30 anos de suas andanças, trajetórias e experiências percorridas em terreiros de candomblé, nos quintais de barro batido de seus bisavós, e em demais espaços de resistência negra são tema do álbum “Ifé Bogbo Aiye”, disponibilizado nas plataformas digitais durante esse período de pandemia.
O álbum conta com canções de domínio público recolhidas nos terreiros de matrizes afro-ameríndias da região sudeste do Brasil, cantadas em “língua de preto” que compreende a junção dos troncos étnicos banto, jeje e nagô, ainda falados nos chamado enquistamentos culturais afro-brasileiros, suma língua difundida no Brasil desde o processo de escravização na diáspora africana.
Ifé Bogbo Aiye são movimentos sonoros perfumados em ervas de cheiro, folhas que curam, incensam, limpam e protegem corporeidades criativas, pérolas negras, culturas banhadas em águas salgadas e doces que formam composições musicais fundamentadas na transculturalidade das múltiplas áfricas em território brasileiro, histórias cantadas aos pés das N’gomas, tambores que saúdam, exaltam e retratam mitologias milenares que perpassam gerações pela oralidade, que ressoam no tempo e espaço dos terreiros de barro batido em terras caboclas.
O termo também significa “amor para a terra toda” em língua de preto, conforme define Mestre Lumumba. “Em tempos de pandemia, o amor pode ser um caminho viável para um mundo que ainda insiste em violentar as populações negras e indígenas, que naturaliza a morte de centenas de milhares de pessoas, principalmente os mais idosos, que extermina as principais riquezas naturais do planeta que são nossas florestas, nossas águas e animais, que demoniza o culto às deusas e aos deuses de religiões não eurocêntricas”, reflete o músico, ressaltando a importância da obra durante a crise da Covid-19, o novo coronavírus.
O álbum foi produzido no estúdio Kalakuta, quilombo urbano localizado na periferia da zona oeste de São Paulo, com direção musical de João Nascimento e participação de importantes artistas e produtores da cena cultural preta da cidade.
O álbum musical está disponível nas seguintes plataformas: Spotify, Deezer e Apple Music.