Protagonista do livro de Roald Dahl, a cor do garotinho foi substituída antes do lançamento, em 1964; segundo autor de biografia do escritor, para a época, personagem negro “não era sinônimo de lucro”
Texto: Victor Lacerda | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/IMDB
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A fantasia toma conta do enredo do filme infanto-juvenil “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. O longa, que é uma adaptação do livro do escritor Roald Dahl, que leva o mesmo nome, foi lançado em 1964 e recebeu duas adaptações para o cinema.
Anos depois, em entrevista para a BBC Radio 4, a viúva do autor revelou que “o primeiro Charlie que ele escreveu era um garotinho negro”, o que não foi colocado nas telas. Nem na primeira, estrelada por Gene Wilder, como Willy Wonka, nem na segunda versão, com Johnny Depp, lançado em 2005.
Liccy Dahl participava do programa “Today” e ao ser questionada sobre o que poderia ter levado à mudança racial do personagem principal, só respondeu que “foi uma pena”.
Na história, o garotinho Charlie mora com os pais e os avós em uma pequena e pobre casa e, com ajuda do destino, consegue encontrar uma barra de chocolate que fazia parte de uma promoção para conhecer a famosa fábrica de sua cidade, com cômodos curiosos, lúdicos e coloridos. O sonho visual de qualquer criança. A narrativa foi o carro-chefe na carreira de Roald Dahl, rendendo milhões de livros vendidos.
A informação dada pela viúva de Roald Dahl pôde ser justificada pelo escritor Donald Sturrock, que também foi entrevistado pelo mesmo programa e trabalhou na biografia do autor. Para a época de lançamento do livro, o agente [literário] do escritor acreditava que uma narrativa com uma criança negra como heroína “não fosse sinônimo de lucro”.
(Foto: Reprodução/IMDB)
O debate racial nos desdobramentos da obra de Dahl não terminam por aqui. Na versão original do livro, os Oompa Loompas, personagens de baixa estatura, que representavam os operários da fábrica, eram Pigmeus, um nome genérico para designar etnias africanas e sua forma de trabalho se assemelhava à escravidão.
Levantando acusações de racismo no lançamento da obra, a primeira versão que ganha à telona, em 1971, já traz os Oompa Loompas com peles alaranjadas e cabelos verdes. Um misto de falta de representatividade com visões raciais deturpadas.