A figura mais recente que teve a retirada do nome anunciada pelo presidente Sérgio Camargo é a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; deputada Benedita da Silva lembra que o dirigente ataca aqueles que não são da extrema-deireita
Texto: Victor Lacerda | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução/Carta Capital
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Conhecido por anunciar nas redes sociais suas ações à frente da Fundação Palmares, o presidente Sérgio Camargo gerou repercussão mais uma vez nesta semana ao informar, em sua conta no Twitter, de que a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi excluída da lista de personalidades negras do órgão. Em 2020, o nome de diversas figuras negras, vivas ou não, já foi excluído do site oficial da fundação, cuja função é preservar o patrimônio negro.
Além de Marina Silva, no fim de setembro foi retirado da lista em questão o nome da deputada federal Benedita da Silva, candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro. O Alma Preta já havia noticiado a censura de biografias de figuras negras históricas no site da Fundação Palmares, entre eles a do próprio Zumbi, a do abolicionista Luiz Gama, e a da escritora Carolina Maria de Jesus.
No caso da ex-ministra do Meio Ambiente, Camargo escreveu que ela “não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil”. Sem citar fontes, o dirigente afirmou que o ambientalismo de Marina “vem sendo questionado” e “não é o foco das ações da instituição”.
O presidente informou ainda que os critérios de avaliação para integrar a lista de personalidades avaliam aspectos de “decência, dignidade, reputação ilibada, relevância histórico-cultural e mérito do homenageado e Marina Silva não cumpria a totalidade de requisitos”.
Em resposta, Marina Silva escreveu também no Twitter que é necessário “encarar isso com a altivez de quem sabe que a história não é feita por aqueles que têm uma visão autoritária e que eventualmente estão no poder, mas por aqueles que persistem na democracia e nos valores da civilização”.
A ex-ministra, que recebeu a notícia poucas horas depois de uma postagem onde correlacionava a imprudência na administração do país por parte do atual presidente Jair Bolsonaro ao avanço das infecções e o aumento de casos pela Covid-19, agradeceu as mensagens de solidariedade e apoio.
Os argumentos de desqualificação contra a ex-ministra para integrar a relação de influência da negritude no país ainda respingou em outros nomes populares nacionais. A sequência de publicações de Camargo deu espaço para acusação de que a cantora Preta Gil, o ex-deputado Jean Wyllys, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL/RJ) e o também deputado David Miranda (PSOL/RJ), eram “pretos por conveniência”.
Para Camargo, todos os nomes citados utilizam de um discurso “vitimizador e sofredor de opressões” com o intuito de “subtraírem recompensas eleitorais e financeiras”.
Benedita da Silva, que teve seu nome excluído da mesma lista, sob a justificativa de ter sido acusada de improbidade administrativa, destacou em sua rede social que o presidente do órgão ataca quem não faz parte da extrema-direita.
“É um crime o que está acontecendo no país, sobretudo na Fundação Palmares. “O atual presidente continua perseguindo lideranças negras que não fazem parte da extrema direita. Isso é uma mancha na história da luta antirracista. É inadmissível que continue acontecendo”, pontuou.