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Invadindo sossegados sonhos alvos: Capítulo três – Tem que ser agora

O prefeito tinha planos para a Favela do Cantão, expulsar os moradores e montar um projeto para os ricos, ele não contava com a força da comunidade que organizada poderiam, acabar com os sossegados sonhos alvos

Imagem: Alma Preta Jornalismo

Foto: Imagem: Alma Preta Jornalismo

25 de novembro de 2022

Akilah empunhava ódio em seus olhos, caminhava a passos largos na avenida de pouco movimento. Lembrou-se de outras comunidades que foram arrasadas, eram vilas em pleno desenvolvimento e souberam como destruir através dos bares, das biqueiras, depois vinham as empreitadas sob o comando de empresários para instalar o plano de aburguesamento. Akilah não se renderia a esse sistema, amante das histórias de mulheres guerreiras, assim como no seu bairro, na Favela do Cantão conheceu várias dessas, eram mulheres de todas as idades que lutavam muito para o bem estar da comunidade, com o olhar atento fitou a linda lua coberta de prata entrosada com o céu negro, em um piscar de olhos sentiu que o manto da noite serviria de armamento para qualquer acaso.
Leia também: Invadindo sossegados sonhos alvos: Capítulo um – Por Água Abaixo

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No fundo do batalhão o Prefeito, o Empresário e o Secretário de Segurança se dirigiram a sala onde o Diego fora levado para investigação, queriam que ele falasse de qualquer jeito. Tinham como provas de seu crime centenas de fanzines, alguns papéis rabiscados de uma futura rádio comunitária, a intromissão de favelados na política, a Cúpula do Prefeito queria nomes, o garoto algemado apanhou e muito seus olhos de inchaço mal abriam, já havia passado por várias batidas policiais, mas como aquela jamais, o lábio superior ferido e o sangue pisado dilatavam na face o corpo abatido sem força.

O Secretário de Segurança sabia da existência do Instituto João Cândido, mas não sabia nomes dos militantes e desconhecia o endereço da base, queria do Diego todas as informações, inclusive o local onde estava escondida Malika, o Prefeito sem paciência fitou o negro que cadeado não abria a boca para nada.

Enquanto isso, dois quarteirões adiante o caminhão baú carregava os quilos sem preocupação era a última cartada da Cúpula, a carga tinha endereço certo ía pro Cantão e fora escoltada por duas viaturas para não chamar a atenção, embarcaram avenida adentro sentido ao galpão, já estava tudo esquematizado.

O Tenente despertou Diego no tapa! O Prefeito observou o semblante do garoto, enquanto o Tenente abriu as duas mãos e golpeou os ouvidos com tamanha violência que seus olhos deram voltas angustiantes, tinha certeza que o Diego estava envolvido com o atentado à viatura, mas não podia matá-lo, fora trazido do morro por desacato, tinha como se explicar da violência ao garoto, mas uma morte seria mais complicado.

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Ardilosa, Akilah afugentou os soturnos sofrimentos que tanto nos acompanham, Antônio Prado lhe passou as informações dizendo que pelo terreno baldio seria a melhor maneira de ataque, já tinha cavado um túnel que dava para dentro do galpão atrás do banheiro, Akilah olhou o movimento quieta na bolsa algumas bombas, panos e uma garrafa de gasolina. No bolso esquerdo da calça o isqueiro. Observou na frente do galpão dois sujeitos esvaziando o caminhão, Antônio Prado já tinha alertado que para esse tipo de serviço eles trabalhavam com poucas pessoas, a garota procurou manter a calma, aguardou encostada na parede do terreno preparando seu armamento, o coração veloz feito uma pantera amaciava seu peito, depois de ajeitar as armas, com as pontas dos dedos docemente contornou as estrelas, à noite tranquila era um convite para o prazer.

Quando a madrugada deu seu esplendor, ela beijou o patuá que trazia no peito, adentrou o túnel rasgava a terra com fúria, caminhou bem indo de encontro ao galpão. Calmamente ergueu o concreto falso que o Antônio havia ajeitado, viu um dos homens dormindo dentro do aposento enquanto o outro policiava a frente do barracão, a organização da carga traria facilidades.

Ela espalhou a gasolina entre os pacotes deixando um rastro próximo ao túnel da fuga, as bombas também ficaram entre as drogas, as mãos da garota suavam e o isqueiro falhou! O medo desenhou seu rosto, o policial em seu sono pesado respirou ruidosamente, fazendo Akilha gelar ainda mais, na terceira tentativa o isqueiro acendeu, com as passadas nervosas caminhou até o túnel de volta, antes de fechar o concreto falso.

Leia também: Invadindo sossegados sonhos alvos: Capítulo dois – Bolando um plano

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-Tenente na escuta?

Do batalhão se ouvia os bombardeios, para o Prefeito era como se o mundo tivesse findado.

-Na escuta Tenente?

-Prossiga!

-Pelo jeito um morto, o outro com queimaduras graves. Aqui nada resta! O galpão está todo em chamas.

O Prefeito não acreditou no que ouviu, estava tudo certo, no rosto dos comparsas da cúpula medo e tamanha frustração. No compartimento que servira como sala de tortura, Diego soltou um longo e doce sorriso em seu rosto brotou primavera  na noite de teus olhos um sol que desenhava a liberdade que há tempos morava em seu peito. Ele anunciava à cúpula que um novo dia estava nascendo.

Na madrugada em um barraco na Favela do Cantão próximo ao Centro Cultural Palmares um compositor cantava o derradeiro samba, a letra trazia uma poesia doce de determinação, um enredo com uma cadência singular, em um lar próximo Akilah se entregava a Jorginho, nua e toda, toda e nua. Cigarras entoavam uma canção serena e a noite demorando pra findar prenunciava que o batuque invadira os sossegados sonhos alvos.

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