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“O que está em jogo é o filho da doméstica perder ou não tudo o que conquistou”, diz Ediane Maria

Migrante nordestina, mãe solo e coordenadora do MTST, Ediane Maria é a primeira trabalhadora doméstica eleita deputada estadual por SP

Foto de Ediane Maria. Ela é uma mulher negra com cabelos em black power. Ela usa uma camisa preta do MTST.

Foto: Imagem: Divulgação/ Assessoria Ediane Maria

27 de outubro de 2022

“A minha candidatura vem primeiro para mostrar que é possível ocupar esses espaços. O estado de São Paulo elegeu a primeira trabalhadora doméstica com mais de 175 mil votos. Foram pessoas que acreditaram na mudança, na reconstrução desse país e em uma mulher preta, migrante nordestina, mãe solo, moradora da periferia e do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST)”. É o que destaca Ediane Maria (PSOL), deputada estadual eleita por São Paulo para 2023.

Nascida no município de Floresta, no sertão pernambucano, Ediane mudou para São Paulo aos 18 anos para trabalhar como babá e empregada doméstica, atividade que desempenhou ao longo da vida. Hoje aos 39 anos, moradora da periferia de Santo André e mãe de quatro filhos, ela é coordenadora do MTST.

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Ediane explica que sua porta de entrada no movimento se deu por meio da luta nas filas do leite que sobrava no programa Leve Leite – que oferece o alimento para crianças em situação de vulnerabilidade social. Seus questionamentos sobre a distribuição injusta do alimento que iria para as pessoas na fila chamou a atenção de uma companheira que a apresentou ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.

“É lá que eu começo a lutar, olhar pessoas como eu, meus irmãos de estado que trabalham na construção de São Paulo. Se eu brigava na fila do leite, vi a questão da moradia que é ainda pior”, explica.

Em 2017, ela passa a integrar o MTST, na maior ocupação da América Latina, que era o Povo Sem Medo em São Bernardo do Campo, com cerca de 12 mil famílias. É dentro dessa atuação que ela passa a entender melhor sobre como o racismo e a segregação racial estava presente no seu cotidiano.

“É tão violento o racismo no nosso país que a gente passa uma vida inteira sofrendo e não sabe o que é racismo. A naturalização e o não entender a tua história também faz com que o povo seja também vítima e continue sendo escravizado, continue achando que é assim mesmo a vida”, explica.

Ocupação Povo sem Medo

Ocupação Povo Sem Medo | Imagem: Reprodução/ MTST

“Eu comecei a entender dentro do MTST o que é fazer política e o que é a política da sobrevivência. Dentro do MTST eu aprendi o significado de solidariedade, de companheirismo, estar junto e o que que é a palavra militante na prática”, ressalta. Em 2019, ela e outros companheiros do MTST construíram o Movimento Raiz da Liberdade, iniciativa antirracista na luta pela construção do poder popular.

Antes disso, ela ajudou a organizar a distribuição e racionalização do leite que restava de alimento no projeto Leve Leite. “Antes tinha dia que sobrava leite e a mulher dava só um saquinho com um litro pra cada um. E eu consegui também arrumar a fila. Essa é uma vitória muito grande lá atrás. São de pequenas conquistas que a gente vai mudando também o lugar que a gente vive”, pontua.

Luta pelo direito à habitação digna

Entre as principais defesas de Ediane Maria para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), estão as propostas relacionadas ao direito à cidade e a moradia, como: propor e lutar pela criação de políticas locais que priorizem a produção de Habitação de Interesse Social, em especial nas regiões periféricas e lutar por políticas estaduais que protejam e auxiliem a população em situação de rua.

Ediane coloca que hoje se vive um completo abandono nas políticas de direito à habitação. No dia 31 de outubro, logo após o 2° turno das eleições, quase um milhão de pessoas correm risco de despejo imediato com o fim da suspensão de remoções determinada pelo Supremo Tribunal Federal.

“Tudo que a gente conquistou ao longo do tempo nesses 25 anos em MTST foi à base de muita luta. A gente não tem de fato o direito que está na Constituição à moradia digna. É uma política de morte o que a gente vive nesse país. Então a minha luta vai ser essa, junto com os movimentos, com o MTST e com as comunidades e lideranças”, explica à Alma Preta Jornalismo.

Ediane Maria em comício

O direito à moradia está entre as principais defesas da deputada eleita | Imagem: Reprodução/ Facebook Ediane

Além disso, ela pontua, entre seus objetivos, olhar para a organização e direito das trabalhadoras domésticas e de suas famílias, contra a precarização do trabalho.

“O trabalho doméstico é um trabalho que é invisibilizado, que não se tem direito a férias, décimo terceiro, não é regularizado. Eu tive meu primeiro registro com o governo Dilma, com a luta pela PEC das Domésticas [promulgada em 2013]. Então é lutar junto com as domésticas e com as diaristas para que a gente, juntas, consiga organizar e trazer direitos”, pontua.

Na reta final para o segundo turno das eleições, no dia 30 de outubro, Ediane Maria também ressalta o trabalho do Partido dos Trabalhadores (PT) para as políticas de habitação e de direitos humanos.

“Foi ele [PT] que fez o Minha Casa, Minha Vida lá atrás, que inclusive incluía pessoas como eu. Nós do MTST fomos duramente atingidos quando o Bolsonaro acabou com as políticas de habitação”, explica. Segundo ela, o atual programa Casa Verde e Amarela, com as regras de comprovação de renda, exclui trabalhadores como faxineiras, diaristas, pedreiros e pessoas que não tem como comprovar a renda de conseguirem a casa própria.

“O PT deu possibilidades e oportunidades da gente, do filho da faxineira, igual a minha filha hoje, de estudar engenharia, de virar doutora, de poder financiar um apartamento com o Minha Casa, Minha Vida. Ver a faxineira, a doméstica ou o pedreiro comprar um apartamento e um carro incomodava muito”, também ressalta.

Além disso, Ediane Maria pontua críticas ao atual candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que traz como preocupação a retirada de câmeras dos uniformes de policiais, mesmo diante de dados que revelam como a medida diminuiu quase 83% da letalidade policial.

“Hoje o que está em jogo é se o filho da empregada doméstica, do pedreiro, do trabalhador vai continuar tendo acesso ou se ele vai perder tudo o que conquistou ao longo do tempo. Então essas eleições são as eleições das nossas vidas. Ela é uma eleição que é da democracia ou da barbárie. A gente está falando de um projeto de futuro, um projeto para as novas gerações e a gente não quer se aprofundar em desigualdade. A gente quer avançar. A gente quer esperançar”, finaliza.

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