A ministra da Cultura, Margareth Menezes, se manifestou contra o critério de julgamento utilizado por uma das juradas do desfile de escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro, que penalizou a Unidos de Padre Miguel (UPM) por “excesso de termos em iorubá” no samba-enredo.
Após a apuração, realizada na última quarta-feira (5), a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIESA) divulgou a justificativa de cada nota dada. Durante a avaliação do samba, uma das juradas alegou que o uso das expressões do idioma africano dificultava o entendimento da música e penalizou a agremiação com 1,1 ponto.
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O enredo apresentado pela agremiação, “Egbé Iya Nassô”, apresentou a trajetória de uma das principais difusoras do candomblé no país, a Iyá Nassô.
A apresentação também celebrou o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, na Bahia, local reconhecido como o mais antigo templo de religião de matriz africana ainda em funcionamento.
Em nota publicada em rede social, a ministra classificou a avaliação do samba-enredo como “inaceitável”. Segundo Menezes, o Iorubá é uma das línguas formadoras da cultura nacional, presente na raiz do samba, das religiões afro–brasileiras e da história do Brasil.
“Isso não é só um erro de julgamento, é um desrespeito à nossa ancestralidade. O samba nasceu da resistência! Todo apoio à Unidos de Padre Miguel e a todas as escolas que levam a cultura afro-brasileira para a avenida com orgulho!”, destacou Margareth Menezes.
O Ministério da Cultura (MinC) também se manifestou oficialmente contra a decisão da Liga.
“É inquestionável a contribuição dos iorubás – povo africano, do Sudoeste da República Federativa da Nigéria, escravizado e trazido ao Brasil. Foi a partir da chegada deles que as religiões de matriz africana encontraram solo fértil no país e enriqueceram expressões culturais e religiosas. Negar as origens e a rica construção dessa população é, também, negar a identidade nacional. Não à toa, o Iorubá foi considerado Patrimônio Imaterial do Estado do Rio de Janeiro em 2018”, diz trecho da nota.
Com a penalidade, a agremiação da Zona Oeste da capital fluminense terminou em último lugar e foi rebaixada após retornar ao Grupo Especial depois de 52 anos. A Unidos de Padre Miguel anunciou, na última sexta-feira (7), que entrará com recurso.
Presidente da Liesa admite racismo religioso
No Desfile das Campeãs, realizado no sábado (8), o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba, Gabriel David, comentou sobre o caso durante uma entrevista ao Multishow e reconheceu o racismo religioso na decisão da Liesa.
“A UPM poderá manifestar sua indignação e repudiar o caso de racismo religioso, que existiu de fato, no julgamento. […] O julgamento é duro com a escola que sobe. É um júri que está há seis anos já. E não podemos admitir o racismo religioso com nenhuma escola. Isso não pode estar presente em nenhum ambiente da arte carnavalesca”, declarou David.
Ainda segundo o presidente, um requerimento da UPM foi aceito e será realizado uma plenária com as 12 escolas do Grupo Especial, para apreciação e análise dos argumentos apresentados pela agremiação.