Pelo menos 875 novos casos da doença foram confirmados em uma semana; estados da Amazônia, sem infraestrutura, são os mais atingidos pela pandemia
Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Governo de Goiás
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Em uma semana 875 novos casos de Covid-19, o novo coronavírus, foram registrados entre os quilombolas do Brasil. Ao todo, são 3.465 casos confirmados, 797 em monitoramento e 135 mortes. Os dados são da plataforma online Quilombosemcovid19.org, atualizada na quarta-feira (15).
Os estados da Amazônia Legal concentram a maioria dos registros. Só o Pará, por exemplo, acumula 1.480 casos confirmados e 37 óbitos, 751 casos suspeitos em tratamento médico e uma hospiralização, conforme a estimativa da Coordenação das Associações das Comunidades Quilombolas do Estado do Pará – Malungu.
Para a enfermeira Silvia Amorim, os dados regionais resultam não só de uma crise sanitária. “Recordo que antes do primeiro caso, a cidade de Belém já apresentava dois surtos: o da escabiose e do sarampo, doenças que podem ser prevenidas com ‘medidas simples’ como a higienização das mãos e vacina disponível. O que nos faz refletir que não é e nunca foi somente uma questão de saúde/doença, mas um processo ramificado de história, organizações e relações sociais”, analisa.
Silvia diz que a pandemia evidenciou desigualdades sociais que se refletem na saúde e que historicamente se impõem sobre a região. “É necessária a compreensão que medidas de mudança e equidade social só se darão com o acesso a direitos básicos a todos os cidadãos, com prestação e atendimento em saúde condizente com a realidade de pretos e periféricos; com investimento em educação em saúde; estrutura básica da rede de atenção à saúde em seus três níveis (primário, secundário e terciário); investimento em ciência e educação, as ferramentas verdadeiramente capazes de estremecer e reconstruir estruturas mais democráticas e justas”, pontua.
Falta de infraestrutura na Amazônia
Lançado no início de julho, o estudo socioeconômico “Quilombos e Quilombolas na Amazônia – Os desafios para o (re)conhecimento” traz dados sobre a realidade dos quilombolas. Um dos dados relacionados com as questões levantadas por Silvia Amorim é que 67% dos quilombolas têm renda familiar de até um salário mínimo.
O Pará é o estado que tem mais famílias com renda de até um salário mínimo. O Mato Grosso é o estado que possui mais famílias com renda acima de cinco salários mínimos. No Pará e no Maranhão, não há nenhuma família dentro dessa faixa mais alta de renda.
Outro dado da publicação é que 30% dos quilombolas só tem acesso à agua cuja origem é rio, nascentes cisternas, igarapés, lagos e outras. Essa falta de infraestrutura é considerada grave pelos representantes das comunidades, em especial, considerando a crise sanitária da Covid-19.
O estudo foi realizado pela Conaq, em parceria com a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e Google Earth Outreach. O levantamento foi feito em seis estados, alcançando 107 quilombos da Amazônia Legal. No Pará, foram analisadas 55 comunidades; 22, no Amapá; oito, em Rondônia; nove, no Maranhão; sete, no Tocantins e seis, no Mato Grosso.