Monumento em homenagem a mãe Gilda do Abaeté é um símbolo nacional da luta contra intolerância; na delegacia, suspeito disse não ter nada contra o candomblé
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Reprodução
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Um homem foi preso em flagrante no Parque Metropolitano do Abaeté , em Salvador, na Bahia, após jogar uma pedra e danificar o busto em homenagem à mãe Gilda, a Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, erguido em 2014 como símbolo da luta contra a intolerância religiosa.
O crime aconteceu na quarta-feira (15) e foi registrado na delegacia central de flagrantes, no bairro do Iguatemi. A delegada identificada como Edeilda não incluiu no registro os agravantes da tipificação de intolerância religiosa. Essa não foi a primeira vez que o monumento foi atacado. Em 2016, a estátua também foi alvo de vandalismo.
“A delegada registrou como um dano qualificado por ter sido contra um patrimônio público, mas negou fazer a inclusão de outras tipificações de racismo ou de ataque a objetos religiosos, como está no código penal. A delegada foi bastante intransigente e hostil. Ela disse que não havia nexo causal”, conta a advogada Gabriela Ramos, que foi até a delegacia no dia do flagrante acompanhar o registro do crime e pedir uma cópia do boletim de ocorrência.
Segundo a advogada, o autor do ataque se chama Sandro Pereira e a delegada se recusou à entregar uma cópia do registro da ocorrência. “Ela disse que perguntou, no depoimento, se ele tinha algo contra o candomblé e contra a pessoa representada na imagem e ele negou”, relata.
“Ninguém que estivesse preso na condição dele afirmaria que tem algo contra o candomblé”, pondera Gabriela. A advogada acredita que a condução do depoimento contribuiu para descaracterizar o crime de intolerância.
Sandro foi preso em flagrante porque o crime foi visto por testemunhas, que avisaram a gestora do parque metropolitano do Abaeté. A gestora chamou a polícia.
Por volta do meio-dia, a mãe de santo Jaciara, filha biológica de mãe Gilda, foi até o local e gravou um vídeo do momento da prisão em flagrante. Ela fez uma publicação nas redes sociais do Axé Abassá De Ogum denunciando o crime. A postagem teve grande repercussão e as organizações dos povos de terreiro de Salvador se mobilizam para fazer outro registro da ocorrência com a acusação de intolerância religiosa.
O Alma Preta entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia e questionou a razão para a delegada não entregar uma cópia do boletim de ocorrência para a advogada. A reportagem também perguntou a respeito do procedimento de depoimento do suspeito do crime. Até a publicação deste texto, a pasta vinculada ao governo do estado não se posicionou.