PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Favelas de Angra dos Reis sofrem com aumento da violência policial na pandemia

14 de julho de 2020

Número de mortes causadas por policiais na cidade de janeiro a maio cresceu 20% em comparação com o mesmo período de 2019; Gustavo, de 15 anos, é uma das vítimas mais recentes

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Foto: Arquivo Pessoal

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

A violência policial em Angra dos Reis, cidade da região Sul do Rio de Janeiro, aumentou consideravelmente nos últimos anos. A taxa de homicídio no município de 200 mil habitantes é maior do que em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Nos primeiros cinco meses deste ano, em meio à pandemia da Covid-19, a cidade registrou 47 mortes violentas. Desse total, 18 assassinatos foram cometidos por agentes das forças de segurança pública, 20% a mais do que as 15 mortes registradas no mesmo período de 2019.

“Em 2020, ficaram mais comuns as incursões da polícia nos morros e periferias. Principalmente pelo Bope e pelo Choque, com tiroteios e mortes. Com a justificativa da guerra às drogas, porém, o resultado é a morte de jovens negros”, diz Hugo Vilela, ativista do movimento negro de Angra dos Reis.

Segundo moradores, as operações policiais são constantes em regiões como o Morro da Caixa D’água, o Morro da Carioca, o Morro da Glória, o Banqueta, em Belém e Sapinhatuba. “Os relatos que eu tenho ouvido de moradores desses locais é que essas intervenções têm ocorrido de forma muito truculenta”, conta Vilela.

No morro do Carmo, na periferia de Angra, o estudante Gustavo, de 15 anos, foi assassinado durante uma dessas operações do Batalhão de Choque no dia 23 de junho. Segundo testemunhas, o garoto levou um tiro na perna e depois, quando estava caído no chão, um policial deu um tiro à queima roupa na cabeça.

“O que chama a atenção é que nessas incursões não dizem quantas pessoas são presas ou se teve apreensão de armas ou drogas”, comenta Vilela.

O coletivo Ubuntuff, organização de estudantes negras e negros da Universidade Federal Fluminense (UFF) do campus de Angra dos Reis, fez um abaixo-assinado para denunciar a violência policial na cidade, onde cerca de 50% da população é negra.

“Observando o histórico e o atual governo do Estado do Rio de Janeiro, que mesmo no meio de uma grande crise sanitária vem realizando diversas incursões policiais que colocam como alvo principal a população negra que reside nas favelas, concluímos que a única política de Estado que perpassa toda a história do Rio de Janeiro e do país é o genocídio da nossa população negra”, diz trecho da nota do coletivo. O documento foi assinado por 102 entidades, ONGs e movimentos sociais voltados à luta antirracista.

O prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão (MDB), comemorou em suas redes sociais, no dia 10 de julho, a queda dos índices de criminalidade, roubos e roubos de veículos na cidade. “A parceria da Prefeitura com as forças de segurança (…) foram fundamentais para a queda na criminalidade”, escreveu o prefeito, que em 2008, na sua primeira passagem pela prefeitura, foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por compra de votos na eleição para um candidato apoiado por ele.

Outro lado

A Polícia Militar diz que as ações da Corporação no enfrentamento ao crime organizado são “planejadas com base em informações de inteligência, tendo como preocupação central a preservação de vidas e o cumprimento das decisões da Justiça”.

De acordo com a nota “o confronto é uma opção dos criminosos, que, de posse de armas de alto poder de destruição, disparam tiros em direção à tropa sem medir consequências”. Quando as operações resultam em casos de lesão corporal ou óbito, são instaurados automaticamente dois inquéritos.

 

*A reportagem foi atualizada às 19h15 para incluir o posicionamento da Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Apoie jornalismo preto e livre!

O funcionamento da nossa redação e a produção de conteúdos dependem do apoio de pessoas que acreditam no nosso trabalho. Boa parte da nossa renda é da arrecadação mensal de financiamento coletivo.

Todo o dinheiro que entra é importante e nos ajuda a manter o pagamento da equipe e dos colaboradores em dia, a financiar os deslocamentos para as coberturas, a adquirir novos equipamentos e a sonhar com projetos maiores para um trabalho cada vez melhor.

O resultado final é um jornalismo preto, livre e de qualidade.

Leia mais

PUBLICIDADE

Destaques

Cotidiano