Número de mortes causadas por policiais na cidade de janeiro a maio cresceu 20% em comparação com o mesmo período de 2019; Gustavo, de 15 anos, é uma das vítimas mais recentes
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Foto: Arquivo Pessoal
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A violência policial em Angra dos Reis, cidade da região Sul do Rio de Janeiro, aumentou consideravelmente nos últimos anos. A taxa de homicídio no município de 200 mil habitantes é maior do que em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro. Nos primeiros cinco meses deste ano, em meio à pandemia da Covid-19, a cidade registrou 47 mortes violentas. Desse total, 18 assassinatos foram cometidos por agentes das forças de segurança pública, 20% a mais do que as 15 mortes registradas no mesmo período de 2019.
“Em 2020, ficaram mais comuns as incursões da polícia nos morros e periferias. Principalmente pelo Bope e pelo Choque, com tiroteios e mortes. Com a justificativa da guerra às drogas, porém, o resultado é a morte de jovens negros”, diz Hugo Vilela, ativista do movimento negro de Angra dos Reis.
Segundo moradores, as operações policiais são constantes em regiões como o Morro da Caixa D’água, o Morro da Carioca, o Morro da Glória, o Banqueta, em Belém e Sapinhatuba. “Os relatos que eu tenho ouvido de moradores desses locais é que essas intervenções têm ocorrido de forma muito truculenta”, conta Vilela.
No morro do Carmo, na periferia de Angra, o estudante Gustavo, de 15 anos, foi assassinado durante uma dessas operações do Batalhão de Choque no dia 23 de junho. Segundo testemunhas, o garoto levou um tiro na perna e depois, quando estava caído no chão, um policial deu um tiro à queima roupa na cabeça.
“O que chama a atenção é que nessas incursões não dizem quantas pessoas são presas ou se teve apreensão de armas ou drogas”, comenta Vilela.
O coletivo Ubuntuff, organização de estudantes negras e negros da Universidade Federal Fluminense (UFF) do campus de Angra dos Reis, fez um abaixo-assinado para denunciar a violência policial na cidade, onde cerca de 50% da população é negra.
“Observando o histórico e o atual governo do Estado do Rio de Janeiro, que mesmo no meio de uma grande crise sanitária vem realizando diversas incursões policiais que colocam como alvo principal a população negra que reside nas favelas, concluímos que a única política de Estado que perpassa toda a história do Rio de Janeiro e do país é o genocídio da nossa população negra”, diz trecho da nota do coletivo. O documento foi assinado por 102 entidades, ONGs e movimentos sociais voltados à luta antirracista.
O prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão (MDB), comemorou em suas redes sociais, no dia 10 de julho, a queda dos índices de criminalidade, roubos e roubos de veículos na cidade. “A parceria da Prefeitura com as forças de segurança (…) foram fundamentais para a queda na criminalidade”, escreveu o prefeito, que em 2008, na sua primeira passagem pela prefeitura, foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por compra de votos na eleição para um candidato apoiado por ele.
Outro lado
A Polícia Militar diz que as ações da Corporação no enfrentamento ao crime organizado são “planejadas com base em informações de inteligência, tendo como preocupação central a preservação de vidas e o cumprimento das decisões da Justiça”.
De acordo com a nota “o confronto é uma opção dos criminosos, que, de posse de armas de alto poder de destruição, disparam tiros em direção à tropa sem medir consequências”. Quando as operações resultam em casos de lesão corporal ou óbito, são instaurados automaticamente dois inquéritos.
*A reportagem foi atualizada às 19h15 para incluir o posicionamento da Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro.