Localizada em Belo Horizonte (MG), o espaço gerido por uma jornalista e empreendedora negra conta com a ajuda de colaboradores para pagar contas fixas em meio aos efeitos econômicos da Covid-19
Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Maxwell Vilela
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Voltada exclusivamente para trabalhar com autoras e autores negros, a livraria Bantu, localizada em Belo Horizonte, Minas Gerais, abriu uma campanha de financiamento coletivo online para pagar contas fixas, como aluguel e energia elétrica e se manter de portas abertas. Com a pandemia da Covid-19, o novo coronavírus, e a necessidade de fazer isolamento social, todos os eventos programados foram cancelados e as vendas de livros também caíram.
Idealizado e gerido pela jornalista Etiene Martins, o micronegócio surgiu para atender uma demanda do público que aprecia a literatura negra e a antirracista. “Comecei vendendo livros infantis com protagonistas negros e negras, com histórias que abordam a cultura africana e da diáspora. Uma literatura com personagens bem mais próximos da realidade corpórea e cultural das crianças brasileiras, sem neve, com cabelos crespos, pele negra. A feira Ébano, que era realizada em BH, reunia diversos empreendedores de moda e beleza afro, mas notei que não tinha nada direcionado às crianças, aí pensei ‘vou vender livros’. Foi um sucesso, recebi diversos convites para outras feiras, festivais, eventos do movimento negro e até de empresas privadas. Aos poucos fui ampliando o acervo e pouco a pouco adequando ao gosto do público leitor”, conta a empreendedora.
A livraria começou de forma itinerante em 2014, dois anos depois foi inaugurada a loja física no centro da capital mineira, oferecendo publicações de vários gêneros, incluindo religiosidade, literatura infantil, história da cultura negra, África, ficção, poesia, dentre outros. “Nossas vendas sempre foram olho no olho. Indicações baseada no gosto e interesse do cliente. Sou uma livreira que gosta de conversar e fazer sugestões. Tive muita resistência em fazer vendas no ambiente virtual. É uma concorrência desleal com as grandes plataformas. Mas a pandemia tem me obrigado a rever isso e pouco a pouco vou realizando vendas pela internet”, detalha.
A pandemia exigiu não só replanejamento das formas de vender, como também impactou de forma profunda no andamento do empreendimento. “Foi necessário o isolamento social. As feiras e eventos foram cancelados, o comércio fechado e com isso as vendas despencaram. Infelizmente chegou uma hora que não havia mais como pagar o aluguel e as demais contas fixas. Pensei em fechar e desisti, mas uma amiga me aconselhou pedir ajuda e me deu a sugestão de fazer uma vaquinha. Em uma semana os colaboradores doaram quase 70% do valor necessário”, explica Etiene, aliviada.
A empreendedora conta ainda que a Bantu também é um projeto cultural que oferta gratuitamente vivências afroliterárias para jovens e adultos em parques, escolas e museus. A livraria ainda integra o projeto Segunda Preta, que oferece temporadas de teatro negro na cidade. “Os livros registram nossa história, nossas conquistas e nos proporcionam um protagonismo que infelizmente em uma sociedade racista nos é negado. A produção do conhecimento negro é essencial para a desconstrução do saber colonizado. Nós somos um povo com histórias fantásticas para contar e a livraria Bantu reúne esses acervos que muitas livrarias se negam a valorizar”, salienta.
A campanha de financiamento está disponível até o dia 21 de agosto. Para contribuir com a Livraria Bantu, acesse o site.