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Negros vivem, em média, dez anos menos que brancos no Rio de Janeiro

17 de julho de 2020

Mapa da Desigualdade também revela que em cinco cidades do Rio todos os mortos pela polícia em 2019 eram negros;  para coordenador-executivo do estudo, é necessário pensar como o racismo atua e organiza essas disparidades

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Lais Dantas/Casa Fluminense

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Os cariocas negros vivem em média dez anos a menos que os brancos. O mesmo se repete nas cidades da região metropolitana como Itaborai, Queimados e Japeri. Em Niterói, a diferença é ainda maior: os brancos vivem em média 13 anos mais do que os negros. Os dados fazem parte do Mapa da Desigualdade 2020, publicação que reúne 40 indicadores que retratam os desafios socioeconômicos da vida urbana na Região Metropolitana do Rio, a partir de dados públicos, utilizando as escalas metropolitana, intermunicipal e intramunicipal.

Henrique Silveira, coordenador-executivo da Casa Fluminense, que é a responsável pelo mapa, diz que o estudo traz um recorte racial mais presente do que na edição anterior, de 2017. “Quem atua com o debate de desigualdade precisa pensar como o racismo atua e organiza essas disparidades”, afirma. Silveira lembra que alguns municípios da região metropolitana apresentam sobreposição dos piores indicadores de violência. “São cidades empobrecidas, com pouca capacidade de gerar emprego e oportunidades e parte importante da população tem que se deslocar para a cidade do Rio em busca do trabalho”, contextualiza.

De acordo com os dados da pesquisa, são pessoas que gastam duas horas se deslocando, com trabalho precário, baixo salário e que gastam mais de 1/3 da sua renda em transporte público. “É a expressão da desigualdade. Isso vai drenando a vida da pessoa em condições muito injustas”, considera Silveira. As pessoas negras são as que majoritariamente morrem em acidentes de transporte público, chegando a 100% em Mesquita, 85% em Japeri, 73% em Queimados e 65% no Rio de Janeiro. “É mais recorrente nessa população do que imaginávamos”, pontua o coordenador-executivo da Casa Fluminense.

Outro dado alarmante para as populações negras é o que mostra que as pessoas pretas e pardas são as maiores vítimas de violência policial. Em cidades como Seropedica, Guapi Mirim, Petrópolis, Cachoeiras de Macacu e Rio Bonito, 100% dos mortos em 2019 eram negros. Em Magê o número chega a 91%, em Niteroi, 88%; e no Rio, 81%.

Na comparação entre cidades na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, os niteroienses vivem, em média, 12 anos a mais que os moradores de Queimados. Na capital fluminense, esta disparidade na expectativa de vida entre quem mora em São Conrado e quem mora na Rocinha é de 23 anos. “O retrato dessas desigualdades se materializa localmente em áreas privilegiadas que provêm infraestrutura e bem-estar para os seus moradores, enquanto as periferias, subalternizadas, vivem em contextos profundos de vulnerabilidade pelo não acesso a direitos sociais básicos, garantidos constitucionalmente”, afirma Vitor Mihessen, coordenador da pesquisa.

Outros indicadores

O estudo também mostra que o município de Japeri não possuía nenhum tipo de leito hospitalar público até 2019, e das cidades que têm, São João de Meriti é a que pior cobria sua população, com dois leitos para cada 10 mil habitantes. Já na agenda de educação, entre os 22 municípios da região metropolitana do Rio, só a capital fluminense atingiu a nota média do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2017, das cidades brasileiras.

Em levantamento realizado diretamente com as prefeituras e empresas de ônibus, o mapa revela o peso da tarifa do transporte público no orçamento familiar mensal: para quem mora nas periferias mais de um terço da renda é comprometida com as passagens de ônibus e por outro lado, em áreas privilegiadas, há pessoas que não tem nenhum gasto com transporte público.

Para Paula Moura, consultora da pesquisa, os indicadores socioeconômicos do estudo falam sobre o perfil populacional que é preferencialmente atravessado por essas desigualdades. “No processo da pesquisa vimos o quanto que o racismo e sexismo desempenham papel fundamental para a perpetuação da vulnerabilidade social. Isso fica evidente quando vemos que, dos 22 municípios da Região Metropolitana do Rio, três não têm ou não responderam sobre a existência de centro de atendimento à mulher. E ainda, quando analisamos que, na mesma região, o salário das mulheres negras equivale à metade da remuneração recebida pelos homens brancos desempenhando a mesma atividade econômica”, pondera.

Os 10 eixos temáticos do Mapa da Desigualdade são: habitação, emprego, transporte, segurança, saneamento, saúde, educação, cultura, assistência social e gestão pública. O documento completo pode ser conferido no site da Casa Fluminense.

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