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Quilombolas correm risco de contaminação por lixão no acesso às comunidades no Pará

22 de julho de 2020

Os dejetos prejudicam cerca de 1.500 pessoas de cinco comunidades quilombolas do município de Salvaterra

Texto: Flávia Ribeiro | Edição: Nataly Simões | Imagem: Páscoa Sarmento

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Famílias quilombolas pedem a retirada de um lixão instalado há mais de 20 anos na estrada que dá acesso aos territórios do Bacabal, Santa Luzia, São Benedito, Pau Furado e Barro Alto, na cidade de Salvaterra, no arquipélago do Marajó, no Pará. As comunidades contam com mais de 400 famílias e quase 1.500 pessoas.

“Diariamente, ao longo das últimas décadas, nós, moradores destas localidades, que precisamos ir até a cidade, somos obrigados a trafegar em meio a toda a sorte de lixo, expondo-nos aos perigos e ao incômodo que isso representa, em especial na época do inverno amazônico, quando tudo alaga e a estrada é tomada por dejetos e pelo chorume”, afirma Maria Páscoa Sarmento, quilombola e pesquisadora.

Maria conta que desde a década de 1990 o local recebe os dejetos e rejeitos produzidos na cidade, como lixo doméstico, pneus, embalagens de venenos, restos de animais mortos (domésticos e carcaças oriundas dos açougues), vegetação dos quintais, vidros, metais, móveis e eletroeletrônicos danificados e até lixo hospitalar. O material seria descarregado por caminhões até mesmo às proximidades de uma Unidade Básica de Saúde.

“No entorno do terreno do lixão existem pessoas habitando em sítios e cultivando roças, hortas e plantações de quintais, bem como criando animais domésticos e que usam água de poços para dessedentação e irrigação das culturas”, comenta a pesquisadora, ressaltando que estudos alertam para a contaminação do lençol freático e de mananciais.

No município de Salvaterra existem 17 quilombos autorreconhecidos, alcançando em torno de 7.000 pessoas. Segundo Maria, que nasceu e ainda vive no quilombo do Barro Alto, os moradores vêm acompanhando com preocupação e com tristeza a ampliação da área onde os dejetos são despejados.

“Até agora, após diversas administrações municipais, ninguém tomou providências quanto à situação do lixão de Salvaterra, que segue crescendo desordenadamente, sem cercas, sem fiscalização, sem nenhuma normativa sobre o seu funcionamento. A cada ano, entre uma reclamação e outra, o gestor municipal improvisa um arremedo de fiscalização e enjambra uma ‘organização’ dos serviços de coleta e descarte de lixo. Ação prontamente esquecida no mês seguinte e retomada na próxima reclamação”, desabafa a quilombola.

As comunidades reivindicam a retirada imediata do lixo e ações mais enérgicas do poder público local. Um pedido de providências foi protocolado no Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA) e aguarda as deliberações judiciais.

“Neste sentido é necessário enfatizar que nunca fomos consultados e ouvidos seriamente pela gestão municipal quanto a localização do lixão no ramal de acesso aos nossos quilombos. Quase sempre a resposta às nossas recorrentes reclamações vem em forma de ações paliativas, como o uso de tratores para empurrar o lixo para fora da estrada e, no verão, tocar fogo no lixo. Na prática, o que fazem é seguir negando-nos a dignidade humana” reitera Maria.

O Alma Preta procurou a Prefeitura de Salvaterra a fim de saber o posicionamento da gestão municipal sobre o lixão que prejudica o cotidiano dos quilombolas que vivem na região. Até a publicação deste texto, não houve resposta.

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