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Maxwell de Assumpção Alakija: Conheça o advogado africano que combateu o racismo no século 20

Africano letrado, profissional liberal, Maxwell de Assumpção Alakija testemunhou o racismo e os limites impostos à população negra; advogado é tema de livro assinado pelo historiador Sivaldo Reis

Texto: Henrique Oliveira | Imagem: Reprodução 

8 de outubro de 2021

Nascido em Lagos, na Nigéria, em 1871, com o nome de batismo de Porfírio de Assumpção, o advogado africano Maxwell de Assumpção Alakija, foi filho de Marcolino da Assumpção e Maximiana Carlota Ribeiro. Segundo relatos familiares, seus pais nasceram livres no Rio de Janeiro e retornaram para África em meados do século XIX. Na África, a família de Maxwell se envolveu com o comércio de algodão e assumiu um papel importante na política e na religião na cidade de Abeokuta. Marcolino foi responsável por abrir a primeira escola católica da região em sua própria residência. A prosperidade econômica da família Alakija fez com que três dos setes filhos fossem enviados para estudar Direito na Inglaterra

Maxwell de Assumpção chegou para morar na Bahia no ano de 1881, aos dez anos de idade. Em 1903, se formou na Faculdade Livre de Direito da Bahia e teve um trajetória marcada por uma forte valorização da sua identidade africana – iorubá.  Sua família resolveu adotar o sobrenome Alakija como uma expressão do “nacionalismo iorubá”, que se desenvolveu a partir de 1890, como resultado dos conflitos políticos com o Império Britânico no continente africano. 

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Africano letrado, profissional liberal, Maxwell de Assumpção Alikija foi descendente de uma família de elite, que, ao morar em Salvador nas últimas décadas do século XIX, testemunhou o racismo e os limites impostos para a cidadania da população negra. Sua trajetória foi tema de pesquisa do historiador baiano Sivaldo Reis, que resultou numa dissertação defendida em 2020, no Programa de Pós Graduação em História, pela Universidade Federal da Bahia e que acaba de se tornar o livro “Maxwell Assumpção Alakija – A trajetória e militância de um africano na Bahia (1871 – 1933)”, publicado pela editora Caravana, acesse o link para pré – venda aqui.

Reconhecido como “advogado da raça”, pelo jornal “Getulino”, que foi fundado em Campinas, em 1923, por três homens negros, Maxwell Alakija escreveu cartas para a imprensa baiana denunciando o racismo. A exemplo da carta publicada em 1920, no jornal Diário de Notícias, quando Maxwell questionou o presidente Epitácio Pessoa, por ter proibido que pessoas negras fizessem parte da guarda de honra do rei Belga, que visitava o Brasil para compromissos diplomáticos. Em 1921, Maxwell divulgou uma carta de protesto no jornal A Tarde contra o projeto de lei apresentado na Câmara dos Deputados Federal pelo deputado Cincinato Braga. O PL proibia a imigração negra para o Brasil. Segundo Maxwell, o projeto era “inconstitucional e desumano”, já que em 1907 havia sido revogada a lei republicana de 1891, que impedia a imigração da África e da Ásia para o país.

Além de ter sido advogado, Maxwell Alakija atuou na alfabetização de trabalhadores. Em 1915, foi convidado pela Sociedade Beneficente dos Maquinistas, para dar aula à noite para aprendizes de maquinistas analfabetos. Em 1919, Maxwell Alikija foi eleito presidente da Sociedade União Beneficiente dos Lavradores dos subúrbios de Salvador,  cujo papel era representar os interesses dos trabalhadores lavradores, que eram sobretudo homens e mulheres negros e pobres, que buscavam auxílio mútuo em casos de doença, acidente de trabalho e o desemprego na capital baiana. 

Embora não tivesse vínculo nem com os governos municipal e estadual, Maxwell Alakija ministrou aulas de inglês e francês. Como “professor livre”, foi convidado a dar aulas no Ginásio Ypiranga, Ginásio Carneiro Ribeiro e deu aula de inglês na Liga Educadora Baiana. Como um militante antirracista e preocupado com as causas sociais dos trabalhadores, em 1913, Maxwell concorreu ao cargo de deputado estadual, mas sem êxito, só obtendo 193 votos. 

Segundo o historiador Sivaldo Reis, Maxwell Alakija foi “um homem sensível aos problemas de Salvador, nos primeiros anos da República, como a escolarização dos mais pobres e o racismo, que se mobilizou tanto no plano individual quanto coletivamente a favor da cidadania da população negra, numa sociedade recentemente saída da escravidão.”  

Sivaldo dos Reis Santos é natural de Salvador- Bahia. Graduado em História pela Universidade Federal da Bahia (2013) e Mestre em História Social pela mesma Universidade (2020). O autor desenvolve pesquisas sobre a temática das relações raciais no Brasil no período da Primeira República, com ênfase na trajetória de homens e mulheres negras.

*Sobre o autor – Henrique Oliveira é graduado em História pela Universidade Federal do Bahia em 2016 e mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia em 2020

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