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Andréia de Jesus: “Preta voz de vidas negras”

Deputada estadual em Minas Gerais, a advogada popular aposta na reeleição com apoio das comunidades tradicionais e quilombolas

Foto: Imagem: Alma Preta com Divulgação/Nadia Nicolau/Mídia NINJA

23 de setembro de 2022

Advogada popular, Andréia de Jesus é deputada estadual no estado de Minas Gerais pelo PT e concorre à reeleição neste ano. Criada em Venda Nova, região periférica da capital mineira e moradora do município de Ribeirão das Neves, a deputada contou em entrevista exclusiva à Alma Preta sobre sua atuação com as comunidades quilombolas e sobre a violência política que sofreu durante seu mandato.

Mãe de um jovem negro, sua primeira profissão foi como diarista e foi a primeira pessoa de sua família a cursar o ensino superior através do PROUNI. Em 2019, Andréia de Jesus eleita por meio da campanha coletiva MUITAS, compôs a Gabinetona, um mandato coletivo e popular junto às parlamentares Cida Falabella e Bella Gonçalves, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, e Áurea Carolina, na Câmara dos Deputados.

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A deputada relata que sua trajetória em defesa dos direitos humanos começou na igreja católica, quando integrou as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e as pastorais de rua e carcerária.

“Eu costumo dizer que eu sempre fui um sujeito político, atuei muito na igreja católica e foi meu primeiro contato com os direitos humanos. Geralmente é o primeiro caminho que a maioria das pessoas da periferia fazem porque as atividades públicas assistenciais nesses territórios ainda estão muito atreladas à igreja”, conta.

Além da igreja como ponto de partida para sua trajetória política, ela relata que seu primeiro contato com o partido político e a política institucional foi na universidade, quando passou a compor as Brigadas Populares. A organização é de caráter nacional, popular e socialista e tem como objetivo propor uma alternativa de enfrentamento ao capitalismo dependente vigente no país. Foi a atuação dentro das Brigadas Populares que a colocou em contato com a questão fundiária no Brasil, principal pauta de seu mandato como deputada.

Em seu primeiro mandato, muito provocada pelo crime ambiental do rompimento da barragem de Brumadinho, momento em que iniciou sua atuação com as comunidades tradicionais e remanescentes de quilombos, a deputada considera que um dos seus maiores feitos na vida pública foi emplacar as demandas dessa população no orçamento do Estado.

“Quando eu ganhei as eleições em 2018, nosso mandato foi muito provocado com o rompimento da barragem de Brumadinho, passei a acompanhar as demandas e fomos provocados pelos quilombolas, porque eles também tinham sido atingidos. A lama não chegou a entrar no quilombo, mas fez com que eles ficassem isolados”, relata Andréia.

“Hoje, a emenda parlamentar, uma das ferramentas mais importantes para você inserir pautas no orçamento do Estado, é a oportunidade que eu tenho de trazer essas pessoas para dentro do orçamento. Eu vim da universidade e percebo que nós temos células de Palmares no estado de Minas Gerais. Com essa narrativa é fácil porque os projetos vão ganhando espaço dentro do governo, assim nós conseguimos de fato atender as demandas deles ”, completa a parlamentar.

Foi o mandato de Andréia de Jesus que articulou a demarcação da primeira terra indígena no estado de Minas Gerais. O território do povo Kiriri na localidade de Caldas através de uma emenda parlamentar. Além disso, o mandato conseguiu que algumas comunidades quilombolas e terreiros pudessem receber recursos através de emendas e que fossem os responsáveis pela gestão financeira do repasse.

Suas expectativas na reeleição estão justamente atreladas à confiança do trabalho realizado com essas populações.

“Estamos apostando muito em uma reeleição construída a partir dos nossos, dos quilombos e comunidades tradicionais. Estamos apostando nesse grupo que a gente deu visibilidade e demonstrou que eles são capazes e têm condições de fazer gestão do recurso do Estado, construir política própria e de serem reconhecidos e respeitados.”

Violência política

Ao longo de seu mandato, Andréia de Jesus foi vítima de inúmeros crimes de injúria racial qualificada, ameaças de morte e violências virtuais. Ela relata que as violências passaram a se intensificar quando ela assumiu a Presidência da Comissão de Direitos Humanos.

“Eu sempre sofri violência, durante a campanha eu recebi muitas críticas por conta pautas que eu defendo como a legalização da maconha e do aborto. Na minha posse, eu levei a placa de Marielle e arrancaram ela de minha mão, então, eu pude sentir o que seria nos anos seguintes. As violências se intensificaram após eu assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos, porque ainda há uma mentalidade muito forte que os direitos humanos são para defender bandidos. Nisso as pessoas se sentem no direito de me ameaçar”, afirma.

No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco, 98% das candidatas negras sofreram pelo menos um tipo de Violência Política nas últimas eleições. Oito a cada dez mulheres sofreram violência virtual de desinformação ou discurso de ódio. Em 2021, foi aprovada a Lei de Violência Política, que visa garantir o ingresso e permanência de mulheres na política. Esta será a primeira eleição em que ela estará em vigor.

A pesquisa também aponta que apesar disso, nenhum dos partidos políticos mudou o seu estatuto para cumprir a Lei, negligenciando a necessidade da criação de políticas de proteção e segurança efetivas para mulheres negras candidatas e parlamentares.

Após essas inúmeras ameaças, Andréia de Jesus teve que ser escoltada e hoje depende da segurança da polícia militar para continuar seu mandato e sua campanha política.

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