“A laicidade deste país está comprometida”, diz Mãe Baiana sobre a permanência do atual presidente no órgão de promoção à cultura negra; ialorixá denunciou o jornalista em junho após ofensas em áudio divulgado pela imprensa
Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Sérgio Lima/Poder 360
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O futuro dos quilombolas e dos povos de terreiro está em risco, segundo a ialorixá Mãe Baiana. Ela se refere aos desdobramentos das ações do jornalista Sérgio Camargo à frente da presidência da Fundação Cultural Palmares (FCP). O Superior Tribunal de Justiça (STJ) julga nesta quarta-feira (5) o futuro de Camargo no comando do órgão de promoção à cultura negra.
“O STJ precisa proteger a Fundação Cultural Palmares. O Brasil está esperando essa resposta. A atual gestão quer a destruição da Palmares. Estamos cansados dessa organização que coloca para fora dos órgãos públicos as instituições da sociedade civil organizada como se fossem criminosas”, afirma Mãe Baiana. A ialorixá mora em Brasília, no Distrito Federal, e acompanha há anos as atividades da fundação. Em junho, ela denunciou Camargo após ser ofendida por ele em áudio divulgado pela imprensa.
Na manhã desta quarta-feira, comunidades de religiões de matriz africana iniciaram uma campanha na internet para pressionar pela saída de Sérgio Camargo e a recuperação da Fundação Palmares. “O tempo do Sagrado não é o nosso tempo. Assim como a nossa Justiça não é a Justiça do Sagrado”, diz a mensagem da mobilização que apoia a saída do jornalista do órgão público.
O nome de Camargo foi indicado em novembro do ano passado pelo ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, no governo de Jair Bolsonaro. A posse do jornalista foi suspensa pela justiça em dezembro e derrubada pelo STJ em fevereiro. Desde então, ele ocupa o cargo mais alto da Palmares e realizou uma série de mudanças que, segundo funcionários, prejudicam a comunidade negra.
“A laicidade deste país está comprometida”, diz a mãe Baiana sobre a forma como o jornalista está conduzindo a fundação. Em áudio vazado em junho, Camargo afirmou, durante uma reunião, que ele não iria permitir a liberação de recursos da Fundação Palmares para projetos que tivessem relação com as religiões de matriz africana.
Essa declaração, entre outras ofensas proferidas pelo presidente, levaram a Defensoria Pública da União (DPU) a entrar com um pedido para que Camargo seja retirado da presidência do órgão. No Twitter, neste dia 5 de agosto, o presidente não falou diretamente sobre o julgamento, mas escreveu “estou com um bom pressentimento em relação a esta quarta-feira. Bom dia!”. Na sequência, sem dar detalhes, ele completou: “Trata-se de expectativa relativa à Fundação”.