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Eliminação da Karol Conká com maior rejeição da história do BBB não te dá o aval de ser racista

A rapper deixa o reality show com 99,17% de rejeição, mas isso não justifica qualquer linchamento direcionado a ela, aos amigos e familiares

Texto: Aline Bernardes | Imagem: Reprodução/TV Globo

Karol Conká

24 de fevereiro de 2021

Era 19 de janeiro de 2021 e os meus olhos não saiam da televisão, parecia convocação de copa do mundo, mas não era. A lista mais aguardada, por mim dessa vez, seria dos participantes do Big Brother Brasil. Quando Karol Conká foi confirmada, a sensação foi de êxtase. Afinal, seria interessante acompanhar por 24 horas a curitibana de 34 anos que construiu a sua trajetória musical com o repertório de reflexões sociais, feministas e combate ao racismo. Sem mencionar o seu estilo “tombamento” que fez parte da minha identificação como mulher preta, com as suas roupas, maquiagens e penteados.

Mas toda essa animação durou pouco. Logo nos primeiros dias de BBB, a rapper usou da sua forte personalidade para fazer e falar coisas que que eram repudiadas em suas canções. A sua “animosidade”, como a mesma diz, a transformou em uma das maiores vilãs do reality show mais assistido do país. Posso citar as cinco maiores vítimas: Lucas Penteado, Arcrebiano Araujo, Juliette, Carla Diaz e Camilla de Lucas.

Karol Conká não mediu as palavras ao criticar o jeito paraibano de ser de Juliette, além de questionar diversas vezes se a participante tinha problemas psicológicos. Humilhou Lucas Penteado depois de o reduzir a um erro e lhe negou afeto individual e em grupo ao não permiti-lo fazer as refeições em conjunto. Enciumada por Arcrebiano, inventou uma narrativa que colocou em cheque a índole de Carla Diaz. E por fim, distorceu o discurso de vários colegas, como Camilla de Lucas.

Assistir a essas cenas e não ter o estômago revirado foi quase que impossível. Quantos relatos eu li de gatilhos que foram ativados naqueles momentos de abuso psicológico e que o entretenimento havia acabado? Essas, e outras, histórias fizeram a Karol ter sua eliminação esperada por pelo menos três semanas. Mas, para alguns telespectadores, a sua saída com rejeição não parece ser suficiente.

Carreira e vida pessoal pós BBB

Será que veremos anos de carreira sendo destruídos por conta de um mês de programa? A punição pelas suas atitudes lhe rendeu um prejuízo de 5 milhões de reais (por conta de shows e contratos cancelados). Karol deixa o BBB com recorde de rejeição, 99,17% dos votos, mas isso não justifica qualquer linchamento direcionados a ela, aos amigos e familiares.

Para conter as ameaças e dar segurança a rapper, a TV Globo mobilizou um esquema diferente dos demais. Segundo informações do site TV Pop, Conká não foi levada para o mesmo hotel onde os participantes ficam e foi acompanhada durante todo o tempo por uma equipe de psicólogos e profissionais da emissora e de sua equipe.

Onda de ódio

Nas redes sociais a rejeição de Karol Conká foi fonte de apostas. Já havia acontecido com o humorista Nego Di, mas em proporções menores. Dessa vez até restaurantes e lojas embarcaram no hype. Descontos e sorteios de produtos foram prometidos a quem acertasse a porcentagem que a cantora seria eliminada.

Seu “cancelamento” ultrapassou o limite profissional e o prejuízo não ficou apenas nos números de seguidores das mídias sociais e das cifras. Diversas páginas de ódio a Karol foram criadas, e muitas, como já havia de ser esperado, repletas de ofensas racistas.

Como não racializar essa mobilização nacional que dá o aval para satirizar mulheres negras? O perdão e o acolhimento não é entregue fácil para nós, enquanto justificam a antipatia pela Karol por suas atitudes dentro da casa, as pessoas aqui do lado de fora não deixam de ser tão execráveis quanto. Ao começar o texto deixei claro que sim, é uma das grandes vilãs do programa, mas em todas as edições temos um vilão, por que somente nessa a resposta do público é mais severa?

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