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‘Quero construir uma São Paulo antirracista’: Simone Nascimento disputa cargo de vereadora junto ao Movimento Negro Unificado

Coordenadora Estadual do MNU, a ativista defende a criação de uma bancada negra para atender a população da capital paulista
A Coordenadora Estadual do Movimento Negro Unificado (MNU), Simone Nascimento (PSOL).

Foto: Reprodução

4 de outubro de 2024

Mais de mil candidatos foram registrados para disputar uma das 55 cadeiras na Câmara Municipal de São Paulo. Entre eles, está a coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) Simone Nascimento (PSOL).

A ativista concorreu como vereadora pela cidade em 2020, mas não foi eleita. Em 2022, assumiu o posto de codeputada estadual pela Bancada Feminista do PSOL, além de ter feito parte da coordenação da campanha do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Criada na periferia de São Paulo, em Pirituba, Simone acredita que as políticas públicas são uma ferramenta crucial de ascensão do povo negro. Ela também defende seu lugar na Câmara Municipal para ampliar a participação do movimento negro e, desta forma, potencializar a luta das mulheres, das pessoas negras e periféricas.

Em entrevista à Alma Preta, Simone abordou seu desejo por uma cidade antirracista, com oportunidades de emprego, cultura e educação para os jovens periféricos e falou sobre a importância de ampliar o saneamento básico, a proteção às mulheres e o acesso à saúde gratuita, entre outros tópicos, como garantir o direito ao envelhecimento da população negra. Confira:

Alma Preta: Quais são os maiores desafios que a candidato enxerga na cidade? 

Simone Nascimento: São Paulo é uma cidade rica para poucos.  Temos vivido um grande desmonte dos serviços públicos com as últimas gestões e quem mais sofre com isso é o povo periférico e negro. A cidade está abandonada e os governantes só enxergam lucro em contratos sem licitação. Precisamos de um ciclo de reformas populares para garantir moraria digna, saúde pública, estruturar a educação e zerar a insegurança alimentar. 

Alma Preta: Quais são suas principais propostas como candidata nessa campanha?

Simone Nascimento: Quero conquistar um mandato que sirva de ferramenta para construir uma São Paulo antirracista. Por isso, defendo um pacto pela vida da juventude negra, a ser construído em diálogo entre todas as secretarias. Com oportunidade de primeiro emprego para potencializar o presente e cultura e educação nas quebradas para reconstruir a perspectiva de sonhos e futuro das nossas meninas e meninos. 

Também acredito que somos a última geração que pode salvar o planeta, combater o racismo ambiental é uma urgência, olhando os impactos da ausência de saneamento básico e coleta de lixo nas periferias, garantindo esse direito e construindo corredores verdes para acabar com as ilhas de calor nos fundões. Direito a cidade é uma prioridade, temos que batalhar pela tarifa zero no transporte e ampliação da frota de ônibus.

Também precisamos garantir o direito sexual e reprodutivo das mulheres, ampliando o acesso a exames básicos, as casas de acolhimento contra violência doméstica e garantindo o serviço de aborto legal na cidade. 

Quero olhar para a transversalidade dos serviços públicos para garantir o direito ao envelhecimento da população negra, não chegar aos 60 anos é parte do genocídio em curso no país. Além disso, temos que lutar por uma outra política de drogas no município, acesso à maconha medicinal no SUS, fortalecimento do CAPS e campanhas de conscientização. 

Quero fazer todas essas lutas levando para a Câmara a experiência da articulação junto aos movimentos sociais. Quero construir esse mandato com um pé dentro da institucionalidade e mil pés fora!

Alma Preta: Como a vereança pode incidir na luta contra o racismo?

Simone Nascimento: Falar de racismo é algo que precisa ser feito permanentemente e em todas as áreas do serviço público. Somos os que mais sofrem com ausência de direitos básicos. Na segurança pública, por exemplo, temos que garantir que o reconhecimento facial não seja implementado nas câmeras de rua da cidade, bem como que a GCM tenha uso de câmera corporal em seus uniformes, uma política que já se mostrou eficiente na diminuição da violência contra nossa população. 

Também quero atuar pela implementação da Lei 10.639 na educação  e na construção de novas leis de combate ao racismo, como o acesso à internet nas periferias e as cotas raciais nos concursos públicos da cidade. 

É urgente ampliar a participação do movimento negro na câmara de vereadores e construir uma bancada negra, a disposição de atender nossa população. Eu quero ser a 7ª vereadora negra eleita da história da cidade de São Paulo e ajudar articular isso.

Alma Preta: as Câmaras brasileiras são amplamente de direita.  Como é possível agir nesse ambiente para garantir o avanço de propostas antirracistas?

Simone Nascimento: Através da aliança prioritária com a articulação e mobilização junto aos movimentos sociais. Fortalecer as organizações do movimento negro e periférico é fundamental para ampliar a participação social nas decisões para além do parlamento. 

Alma Preta: qual a sua maior vitória dentro do movimento negro?

No ensino médio, um professor me levou na marcha da consciência negra em São Paulo. Naquele dia eu descobri que havia muita gente que lutava contra o racismo, foi um divisor de águas na minha vida, e passei a me juntar ao movimento social. Durante o governo Temer (2016-2019), quando era diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), fizemos grandes mobilizações que barraram a redução da maioridade penal. 

Durante o governo Bolsonaro, resistimos ao genocídio na pandemia, por meio de mutirões de combate a fome e mobilizações que conquistaram a ADPF das Favelas, para que parassem a violência policial e chacinas durante o estado de emergência pandêmico no Brasil. Também conquistamos o auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia e a vacina no SUS. 

Mais recentemente, conseguimos aprovar um novo decênio das cotas raciais nas universidades federais e após 20 anos de marchas da consciência negra em SP, conquistamos o feriado estadual da consciência negra e após mais de quatro décadas de luta nacional, o feriado nacional, sancionado pelo presidente Lula.

Alma Preta: por que é importante ter um membro do MNU inserido na política paulista?

Simone Nascimento: Porque a história das políticas públicas de combate ao racismo no Brasil se confunde com a história do Movimento Negro Unificado. Foram sempre ideias formuladas no MNU que encontraram escuta de parlamentares e governos comprometidos com o movimento negro que nos permitiram conquistar o item cor no IBGE, as cotas raciais, a Lei 10.639 e o feriado nacional da consciência negra. 

Nossa geração precisa garantir novos avanços e ir além, esse é o sonho dos nossos ancestrais e eu sou uma voz à disposição desse novo ciclo que podemos inaugurar dia 6 de outubro. 

  • Mariane Barbosa

    Curiosa por vocação, é movida pela paixão por música, fotografia e diferentes culturas. Já trabalhou com esporte, tecnologia e América Latina, tema em que descobriu o poder da comunicação como ferramenta de defesa dos direitos humanos, princípio que leva em seu jornalismo antirracista e LGBTQIA+.

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