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Após cem dias de greve geral, Colômbia vive efeitos da crise e da violência policial

ONG registrou 6.800 casos de violência policial, 35 violências sexuais praticados por agentes do Estado e centenas de desaparecidos no país

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Reprodução 

Colômbia tem monumento de 10 metros para lembrar greve geral

8 de setembro de 2021

A paralisação nacional na Colômbia completa 100 dias de atividades ininterruptas, com marchas, bloqueios de rua e repressão do Estado. A greve geral é considerada a maior mobilização da história do país e conquistou a suspensão de duas reformas, provocou o pedido de renúncia de dois ministros e muita repercussão internacional.

De acordo com a ONG Temblores, que atua na área de Direitos Humanos e Justiça Social, foram 6.700 casos de violência policial desde o dia 28 de abril, data de início dos protestos. Além disso, 35 mulheres foram vítimas de violência sexual praticada por agentes do Estado e 2.053 manifestantes foram presos, segundo os dados da plataforma Grita para registro de denúncias.

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Os atos contra o governo e as barricadas foram reduzidos depois que a Colômbia voltou atrás nos projetos de reforma política com redução de direitos da população e a renúncia dos ministros; a repressão, no entanto, continua. Lideranças que participaram da organização dos protestos desapareceram ou foram assassinadas. O governo nega a participação da força policial nesses crimes.

“Em Cali, a situação está muito pior. O sistema de transporte que já era ruim, ficou péssimo. As obras estão paralisadas e tem muitas estações que foram destruídas na greve geral e não foram concertadas. Nos bairros com a maior parte da população negra, nas áreas mais pobres, o transporte público encerra às 19h”, diz um estudante brasileiro, morador da cidade, que pediu para não ser identificado.

Em Porto Resistência, no bairro de Rellena em Cali, foi erguido um monumento para lembrar as vítimas da paralisação no país. O ‘Monumento à Resistência’, como é chamado, tem cerca de dez metros de altura, tem as cores da bandeira colombiana e é um punho que segura uma placa que diz ‘Resiste’. A obra inaugurada em junho foi feita pela própria população e tem fotos de mortos e desaparecidos durante a greve.

As chances de reeleição do presidente Ivan Duque para as eleições do ano que vem estão diminuindo. A rejeição ao nome do presidente ganhou força após a greve geral e o agravamento da crise econômica.

“Os casos de violência continuam. Há uma perseguição institucional para identificar os líderes sociais, que correm risco constante de vida”, afirma o estudante.

A liderança popular negra Francia Márquez MIna registrou a sua candidatura à presidência no último dia 3 de setembro, pelo movimento ‘Soy Porque Somos‘ (Sou Porque Somos). “Como mulheres, como povo, como pessoas que vieram de baixo, esperando a vida toda por este momento histórico em que a vida e a dignidade sejam possíveis”, declarou a ativista de direitos humanos ao confirmar a sua candidatura, que tem apoio de intelectuais, artistas e representantes do movimento negro colombiano.

Descontrole da Violência

A popularidade do presidente diminui ao passo que surgem novas denúncias de violência praticadas pelo Esmad (Esquadrão Móvel Antidistúrbio), durante e após os protestos da greve.

No final de junho, foi encontrada uma cabeça decapitada de um jovem no vale de Cauca, que poderia ser do estudante negro Santiago Ochoa, da cidade de Tuluá. O caso repercutiu como um dos crimes praticados por agentes do governo em repressão à greve. No Twitter, o presidente Ivan Duque disse que a morte do jovem seria investigada e os responsáveis “julgados com determinação”.

Tuluá é uma das cidades onde mais houveram conflitos entre manifestantes e a polícia. O Palácio da Justiça chegou a ser incendiado por pessoas mascaradas.

Em São Paulo, o colombiano Andrés Olivos foi um dos participantes do ato pacífico em solidariedade ao povo colombiano, que aconteceu no dia 9 de maio, e fez uma avaliação do cenário atual na Colômbia após a Greve Geral.

“Teve alguns resultados imediatos na época. É mais um triste episódio da nossa história porque acabou não acontecendo nada. Continuam matando os líderes sociais e os problemas econômicos, sociais e políticos estão intactos”, disse Olivos, que mora no Brasil há sete anos e é professor e tradutor.

As eleições na Colômbia devem acontecer em meados de 2022 e o presidente eleito vai tomar posse em 7 de agosto, Dia da Independência.

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