A Oba Educacional, escola localizada no bairro de José Bonifácio, na zona leste de São Paulo, possui 70 alunos, 85% deles negros. Diante dessa estatística, a instituição de ensino adotou políticas afirmativas de combate à discriminação racial na educação da primeira infância. Na unidade, são oferecidas aulas de educação infantil, aulas particulares e de reforço, além de inglês afrocentrado para crianças de até 12 anos.
A escola conta com um modelo de aulas remotas realizado através de uma plataforma própria, com uma rotina pedagógica adaptada para cada faixa etária e nível de aprendizagem. A instituição de ensino também prioriza a contratação de professores negros e compreende as dificuldaddes que esses profissionais encontram no mercado de trabalho.
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“Enquanto educadora eu acredito que esse combate ao racismo é um trabalho que se volta para os familiares das crianças e toda a comunidade escolar. É preciso conscientizar primeiro as famílias para que elas participem do universo escolar e minimizem o preconceito”, reflete a diretora Eliane Mara de Brito.
Um estudo do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), intitulado “Racismo, Educação Infantil e Desenvolvimento na Primeira Infância”, mostra que o racismo prejudica o desenvolvimento de crianças negras, que estão sujeitas a desenvolver problemas emocionais e físicos devido ao impacto de preconceitos e discriminações na primeira infância.
De acordo com a publicação, se as crianças convivem em espaços que oferecem como experiência relações sociais em que a imagem do negro é construída a partir de referências negativas, é de se esperar que isso afete o seu desenvolvimento emocional. O estudo também aponta os principais impactos do racismo no desenvolvimento infantil: rejeição da própria imagem; construção de identidade racial desvalorizada; problemas de socialização e inibição comportamental; propensão de doenças crônicas na vida adulta; estresse e ansiedade.
“Os alunos precisam do contato com referências estéticas, ideológicas, intelectuais e filosóficas que valorizem a cultura afro-brasileira. Quando o aluno chega na escola, pensamos primeiro na construção da autoestima dele, em um sentido contrário a tudo o que a sociedade prega e que o aluno negro escuta ao longo dos anos no ambiente escolar tradicional”, conta João Vitor Silva, gerente de comunicação e negócios da Oba Educacional.
João também fala sobre o cuidado com as famílias dos alunos. Nesse sentido, a instituição propaga representatividade para toda a comunidade escolar, que vai desde o ‘bilhetinho’ na agenda. “Entendemos a efetividade da metodologia de trabalhar a autoestima para depois introduzir uma abordagem teórica”, explica o gerente de comunicação.
“Sabemos dos efeitos causados pelo racismo, como a falta de autoestima, que prejudica grandemente o desempenho pedagógico de crianças negras. Quando passam a aceitar a própria imagem, elas assimilam melhor o conteúdo da sala de aula e enxergam a escola de forma mais acolhedora e menos opressora”, complementa.
Educação infantil é um dos primeiros e mais importantes ambientes de socialização da criança
Ainda segundo a pesquisa do Núcleo Ciência Pela Infância, a educação infantil é um dos primeiros e mais importantes ambientes de socialização da criança e é nesse espaço que ocorrem as interações sociais que impactam diretamente no desenvolvimento dos pequenos.
“Quando a criança passa por uma situação racista, ela pode construir um sentimento de desvalorização, de rejeição da própria imagem, de inibição e dificuldade de confiar em si mesma. Isso afeta, inclusive, o seu processo de socialização”, explica Lucimar Dias, pedagoga e professora Associada da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que coordenou o estudo.
Para a diretora da Oba Educacional, a educação infantil possui um papel primordial de combate ao racismo, principalmente no que tange à conscientização durante a primeira infância.
“Esse trabalho de conscientização é válido tanto para a criança negra quanto para a não negra. Através de rodas de conversas, de literaturas, gerando uma aproximação cultural para que a criança cresça e não demonize a cultura africana”, pondera Eliane.
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