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‘Dizem que vão matar, não prender’: moradores denunciam abusos e ameaças da PM em Santos (SP)

Segundo a Polícia Militar paulista, as ações são parte de uma "Operação Escudo" em resposta a um ataque contra um policial na região
Imagem mostra viaturas das polícias de São Paulo.

Foto: Reprodução/SSP

24 de janeiro de 2024

Moradores da Vila Pantanal, no bairro do Saboó, em Santos (SP), denunciam ações da Polícia Militar na comunidade, apontando um clima de medo e restrição. Segundo relatos de moradores à Alma Preta Jornalismo, policiais militares estão dificultando a entrada e a saída de pessoas na comunidade e ameaçando moradores da região.

“Eles estão intervindo na comunidade de todas as formas, nossas crianças não podem mais brincar nas ruas em época de férias, não estamos podendo trabalhar, fecharam comércios com força da prefeitura, estão fazendo blitz quase todos os dias em volta da comunidade, parando mototáxi, motoboy, Uber, táxi e qualquer outro veículo que eles acharem suspeito”, afirma um morador.

Ainda segundo os relatos, policiais estariam ameaçando moradores com possíveis execuções. “Não estamos aguentando mais. Já vai fazer uma semana amanhã que eles estão fazendo isso e, quando entram, mandam todos os moradores entrarem para casa dizendo que não estão de brincadeira e vão matar, não vão prender.”

Nesse cenário, moradores temem represálias em caso de denúncias. “Nesse tribunal de rua, nossa palavra não vale nada, e quem deveria proteger bate, humilha, prende e mata. Não temos força para nos defender contra essas opressões”.

Em outro relato, um morador diz que a polícia pode fazer seu trabalho, mas não desrespeitando e oprimindo moradores. Segundo ele, há um clima de medo instaurado na comunidade.

“Eles estão impedindo o direito de ir e vir dos moradores. De alguma forma, o morador que tem um filho pequeno e precisa sair para trabalhar, já não está indo porque tem medo de deixar um adolescente, uma criança dentro de casa e um policial meter o pé dentro de casa, entrar e fazer uma injustiça”, conta o morador.

Nas redes sociais, publicações também denunciam restrições, afirmando que a polícia não estaria deixando o comércio local funcionar normalmente.

Um protesto para denunciar a situação chegou a ser marcado pelos residentes da Vila Pantanal. Apesar disso, os moradores desistiram da manifestação diante do clima de medo. “A comunidade ficou oprimida, com medo de sair”, disse um morador, que afirma ainda que as ações da polícia continuam na região, incluindo ameaças de violência.

PM diz que ações fazem parte de Operação Escudo

Questionada pela reportagem, a PM afirmou em nota que as ações na região ocorrem desde o dia 7 de janeiro e fazem parte de uma “Operação Escudo”. Recentemente, novas operações Escudo foram anunciadas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) em pelo menos quatro cidades: Guarulhos, Santo André, Piracicaba e na capital. A nota não cita ações em Santos.

Uma operação de mesmo nome foi deflagrada entre julho e setembro de 2023, após a morte de um policial. A ação deixou pelo menos 28 pessoas mortas na Baixada Santista em meio a denúncias de abusos, tortura e execuções por parte dos policiais. A ação foi denunciada por movimentos sociais como método de vingança e está sob investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP).

Segundo a PM, a Operação Escudo na Vila Pantanal “foi iniciada após um policial militar da Força Tática do 6° Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I) ter sido baleado por criminosos da região” e segue procedimento padrão em “abordagens e busca pessoal em indivíduos suspeitos”. Ainda segundo a PM, um homem foi preso por tráfico de drogas e um procurado foi recapturado. Além disso, foram realizadas apreensões de entorpecentes e objetos como um colete balístico e armas brancas.

A Alma Preta questionou a SSP em duas oportunidades sobre as denúncias em relação às ações da PM na Vila Pantanal, mas não recebeu respostas até o fechamento da reportagem.

  • Pedro Borges

    Pedro Borges é cofundador, editor-chefe da Alma Preta. Formado pela UNESP, Pedro Borges compôs a equipe do Profissão Repórter e é co-autor do livro "AI-5 50 ANOS - Ainda não terminou de acabar", vencedor do Prêmio Jabuti em 2020 na categoria Artes.

  • Solon Neto

    Cofundador e diretor de comunicação da agência Alma Preta Jornalismo; mestre e jornalista formado pela UNESP; ex-correspondente da agência internacional Sputnik News.

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